sábado, 13 de janeiro de 2018

Amores não correspondidos





Em seu escritório improvisado, a professora corrige redações. Oito turmas de terceira série, e o vestibular à porta, é preciso que os alunos escrevam melhor...muito melhor.

De longe, distraída que está, ouve a campainha. “Ué! Não espero ninguém”.
Vai até a porta e abre-a. Diante dela, o rosto conhecido de um adolescente tímido, muito triste. Seu olhar fala: “Me ajuda”.

Surpresa e também curiosa, convida-o a entrar e sentar. Apesar do seu esforço, tem um pouco de dificuldade de fazê-lo falar para contar o que o aflige tanto.
Para suavizar o ambiente, depois de ele concordar, coloca no aparelho um CD do Chico Buarque (ele lhe diz q é um de seus cantores prediletos). Só então a conversa começa a fluir com mais naturalidade (desaparece a surpresa dela e um pouco da timidez dele).
De cabeça baixa, como quem esconde o rosto, ele chega ao ponto crucial. (“Como ela não percebera? Só podia ser isto: amor não correspondido. Amor de adolescência... Também ela fora escandalosamente apaixonada por alguém. De chorar de frustração. Ele a ignorava completamente. E como doía!”)
E o que dizer para aqueles olhos à sua frente voltarem a brilhar confiantes de que o amor é possível? Adianta afirmar que, com o tempo, tudo passa?
Ela deve apenas ouvir a história, embalada pela voz do Chico, e revelar seu otimismo em viver. (“Vontade de dar-lhe colo e deixá-lo chorar até livrar seu peito de tamanha tristeza. Foi o que a ajudara.”)
Ele vai embora e fica com ela uma sensação de impotência nostálgica.
Ele volta (ainda bem, porque ela está mais preparada). Ele lhe parece mais animado, um pouco menos triste e conversam sobre assuntos diversos. A filha dela contribui para distrair o ambiente, pois vem do balé, entra como um furacão, larga a mochila e sai aos pulos para brincar na calçada.
Mas... e na sala de aula? Ela percebe que ele a segue com um olhar súplice.
É. A relação aluno-professora fora rompida, porque agora entre os dois surge um novo e precioso sentimento: amizade.
Mardilê Friedrich Fabre
Imagem: via Google


Um comentário:

Anônimo disse...

Estes amores não correspondidos sempre permitem algum sofrimento. Celso Ferruda